segunda-feira, 27 de março de 2017

GUERRA DE CANAIS E A PRÁTICA DO "GANHA GANHA" - José Souto Tostes


Uma guerra comercial está se travando no Brasil, desde o final da última semana, quando as emissoras SBT (Silvio Santos), Rede Record (Igreja Universal) e Rede TV, decidiram não permitir que as empresas de televisão por assinatura, como SKY, Claro, Net e outras, retransmitissem gratuitamente suas programações.

As emissoras comunicaram o fato ao público e informaram que continuarão com suas programações veiculadas de forma gratuita, bastando acesso digital via antena de captação de imagem comum. Até aqui todo mundo tá sabendo.

O que não se sabe, até agora, é como as empresas de televisão pagas irão reagir, pois boa parcela do público que acessa tais transmissões, assiste tais programações da chamada tv aberta, caso das emissoras acima e da Rede Globo.

São duas situações bem distintas para responder à pergunta sobre a quem interessa esse embate:

Primeiro, as emissoras abertas farão falta na programação da tv paga. Isso é indiscutível. E o público, que em sua maioria detém apenas a antena da operadora paga, pode ficar um tempo sem tais programações.

Segundo, como deve ser a reação comercial ou contra-ataque das transmissoras que vendem pacotes?Certo é que o contratante (consumidor), quando assina um contrato com a SKY, por exemplo, consta que terá a transmissão das emissoras abertas. Fato que deixará de existir com a decisão de SBT, Record e Rede TV.

Dessa forma, colocamos na mesa os interesses de cada uma.

A primeira reação de quem analisa o caso é de que há uma quebra de contrato entre as empresas que vendem o sinal e o cliente, consumidor final. Disso não há dúvidas. 

A reação das empresas que vendem pacote poderia ser a substituição por outros canais, talvez canais internacionais, mas que não atenderiam ao público que quer assistir o programa do Sílvio Santos, aos domingos, por exemplo.

Outra reação seria topar pagar às emissoras abertas por tal retransmissão, que seria a melhor solução, pois os pacotes se manteriam intactos. Não haveria quebra de contrato.

Mas a SKY, primeira a reagir, simplesmente declarou guerra, cortando o sinal em Brasília, onde não há transmissão digital.

Nosso texto defende a tese de que qualquer confronto belicoso, antes de uma ampla negociação, não levará à resolução do caso. Iniciar um caminho de entendimento com a agressão, com a medida dura, não leva à solução a curto prazo. Pois o machucado que fica, talvez seja de difícil reparação ou cura.

O país e o mundo atravessam momento de mudança profunda nesse aspecto, vide até mesmo a evolução no trato entre patrões e empregados, entre consumidores, até em litígios judiciais, que é sempre a composição.

Valho-me de um antigo jargão: mais vale um mal acordo do que uma longa contenda. Quando se parte para o embate, como fez a SKY, já se entra perdendo. A não ser que a reivindicação seja totalmente injusta, o que não é o caso, pois as demais programações exibidas pelas empresas da chamada tv paga, remunera cada canal com o devido valor.

O público tende a ficar a favor de quem não é remunerado, que pode passar como o mocinho para a história e as empresas que vendem pacotes, como vilãs.

Essa história se aplica muito bem aos conflitos das empresas no dia a dia. E serve para ilustrar o quanto perdemos de tempo e de dinheiro, digladiando, em muitos casos, por valores até ínfimos. A conciliação, a conversa, o exaurimento do debate deve ser sempre buscado em todas as situações.

É impossível ganhar sempre. Ceder é primordial, pois só assim praticaremos a política do "ganha ganha", onde eu ganho e meu parceiro também. Querer praticar sempre a política do "ganha perde", nem sempre dará resultados positivos para as partes.

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