sábado, 18 de março de 2017

O ESCÂNDALO DA CARNE E A IMAGEM DAS EMPRESAS ENVOLVIDAS - José Souto Tostes

Há 24 horas o Brasil tem um único assunto em todas as rodas e mesas onde duas ou mais pessoas estão conversando: o escândalo da carne, deflagrado após uma megaoperação da Polícia Federal. Desse tema, algumas discussões precisam ser realmente travadas. Vamos atrás delas:

1) O brasileiro brinca até com a sua própria saúde e morte. Isso mesmo. Uma olhadela nas redes sociais e nas mensagens recebidas ontem e hoje retratam um país brincando com a tragédia. Só hoje recebi umas cinquenta imagens ironizando a crise de saúde pública. O que, certamente, não tira, dos brincalhões, a preocupação com o problema. É um jeito brasileiro de ver e enfrentar suas polêmicas.

2) A situação é grave, muito grave. As provas colhidas, para quem leu os jornais, são muitas. Não são só evidências, mas material forte que indica que a fiscalização era frouxa, em muitos casos, e a população tinha acesso a material inservível para o consumo humano. Se as situações são localizadas, não sabemos, mas, por precaução, temos que ficar em alerta total.

3) A preocupação do governo é com a questão econômica. A saúde sequer foi falada. Não vi o Ministério da Saúde comunicando-se com o povo, que está com muito medo. O presidente determinou ao Ministro da Agricultura que comandasse o enfrentamento à crise, segundo entrevista dada pelo próprio ao jornal O Estado de São Paulo. Para quem não sabe, o ministro é o empresário Blairo Maggi.

4) Um grupo da sociedade tenta politizar o tema. Atribuindo o escândalo até a interesses políticos de setores da Polícia Federal, como se tudo isso fosse inventado por algum delegado querendo prejudicar o político A ou B. Esse é o pior dos mundos, pois teremos o foco de nossa atenção desviado ao menos importante. Se o escândalo nasceu com intenções políticas, o interesse em investigá-lo é ainda maior. Mas creio que essa falácia é uma espécie de teoria da conspiração.

5) Outra situação que merece registro é a forma como as próprias empresas estão tratando do assunto. Uma nota da JBS publicada nos jornais não discute o problema, limita-se a dizer que nenhuma unidade da empresa foi interditada, insinuando que a implicação dela é por conta de um única citação de um funcionário da empresa na unidade de Lapa, no Paraná.

A JBS não cumpriu o seu papel como empresa responsável, se é que ela é, pois o correto seria discutir com profundidade o seu envolvimento. Se o envolvimento é uma única citação, deveria trazer o nome e em que condições esse funcionário participou e foi incluído nas investigações. A nota é fria, distante e incoerente com o sentimento da população. Mesmo um leigo no assunto marketing sabe que a JBS errou, pois limitou-se a negar o seu envolvimento, sem nada esclarecer. Qualquer manual de compliance pediria algo mais profundo. Não creio que a nota produzirá os efeitos desejados.

A população espera que o tema seja tratado com transparência, pois não é um caso isolado no açougue da esquina, nem na loja do shopping mais perto de nossas casas, mas um escândalo de grandiosa proporção, afetando um alimento (carne) que quase todos nós consumimos, em grande parte de nossas refeições.

A transparência é esperada por parte da Polícia Federal, já que o tema é motivo de pânico no seio da família brasileira, por parte das autoridades sanitárias, de saúde pública e até mesmo por parte da Justiça, que foi a desencadeadora de todo o processo.

O assunto, finalizando, é muito grave para ser tratado com brincadeiras, disputas políticas e notas distanciadas da realidade. Não vejo como sério um país que quer aliar o problema ate´mesmo aos artistas famosos que são contratados para propagandear os produtos. Na verdade, aliar o escândalo ao Tony Ramos, à Fátima Bernardes ou ao Roberto Carlos, garotos- propaganda da SADIA, da PERDIGÃO, da FRIBOI e da SEARA, é jogar o problema para escanteio e não resolver nada. O Brasil precisa enfrentar essa situação, afinal, ela é muito séria e merece toda a preocupação de todos.

E que, no final, ele sirva para que a alimentação do brasileiro seja levada a sério por todos os consumidores.

Um comentário:

  1. E as empresas citadas estão gastando uma nota preta com propagandas no horário nobre para tentar explicar o inexplicável.

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