quinta-feira, 4 de maio de 2017

A FORÇA DOS VERMES - José Souto Tostes

A ministra Carmen Lúcia, presidente do STF, concedeu essa semana uma entrevista ao programa do jornalista Pedro Bial, que estreou na programação da Rede Globo. Sua fala final, apesar de forte, não foi objeto de repercussão na mídia. A ministra terminou a entrevista com trecho do poema de Cecília Meireles, intitulado Romanceiro da Inconfidência: "Pelos caminhos do mundo, nenhum destino se perde: há os grandes sonhos dos homens, e a surda força do vermes".

A frase é forte exatamente pelo contexto da entrevista, onde Carmen Lúcia se portou como Carminha, saindo de lá, muito mais ministra do que entrou.

O conhecido e também mineiro Padre Fábio de Melo, biografado por Rodrigo Alvarez, apresentou-se como "humano demais". A ministra foi gente, gente mineira, gente de carne e osso, abriu o seu coração para os brasileiros, numa época em que transparência, confiança e seriedade é o que mais se requer das autoridades.

O noticiário agiu friamente, não enalteceu a atitude e postura da ministra. Ela foi humana, acalentou o povo com esperanças, numa época em que só se vê desgraças no noticiário de todas as mídias.

Por si só o fato já seria motivo de alegria para nós, que sempre convivemos com autoridades sisudas, que num país tropical de povo alegre e extrovertido, convive com políticos, dirigentes e até ministros comportando-se como verdadeiros integrantes da monarquia londrina.

A fala extrovertida transmite sinceridade, autenticidade e transparência. Quando a expressão da autoridade vem com sisudez o que fica transparecendo é que algo está sendo escondido.

Bial ainda retratou essa ministra humana com a exibição de trechos do seu pronunciamento de posse, onde "quebrou o protocolo" e fez a saudação inicial ao povo brasileiro. 

Nesse momento do país o que mais precisamos é de sinceridade, de autoridades mostrando-se como o povo, com a cara do Brasil. Bial poderia ter "quebrado o protocolo" e oferecido um cafezim e um pão de queijo para a suprema autoridade do Judiciário do país.

Fernanda Torres fez participação especial no programa e chutou algumas bolas para a ministra golear em seriedade, competência e mostrar que é possível ser sério sem ser sisudo.

Esse texto é uma confissão de um fã da ministra, mas serve para que outros a copiem, mostrando-se em suas essências, de peito aberto para o Brasil.

E para terminar essa homenagem de quem tanto a aplaude, deixo uma frase de outro autor lembrado na entrevista, o mineiro Guimarães Rosa: "Sou só um sertanejo, nessas altas ideias navego mal. Sou muito pobre coitado. Inveja minha pura é de uns conforme o senhor, com toda leitura e suma doutoração".

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